Em comemoração do X Aniversário da primeira Travessia da Serra da Estrela resolvemos voltar a percorrer o percurso de ligação entre a Guarda e a Torre, com descida depois para Loriga pela Garganta com o mesmo nome.
Depois de fazermos a preparação física com um conjunto de caminhadas com algum nível de dificuldade, na Serra da Freita, e de tratados os mais pequenos pormenores relacionados com os equipamentos, alimentação, viagens e outros detalhes, partimos na Sexta-feira (25 de Abril), para a cidade da Guarda.
(25/Abr)
De Aveiro partimos (Calé, Francisco e Cardoso) em autocarro para a Guarda onde chegámos pelas 17 horas. Da central de camionagem até à residencial onde pernoitámos pudemos perceber o peso que iríamos carregar durante a jornada que se avizinhava.
Estávamos já instalados na residencial quando chegou o quarto elemento da aventura, o Pina Jorge.
Dos quatro, três tinham estado na 1ª Travessia (Calé, Pina Jorge e Francisco). Na altura, o Francisco abandonou a aventura no segundo dia de actividade por lesão num joelho.
Dos quatro, três tinham estado na 1ª Travessia (Calé, Pina Jorge e Francisco). Na altura, o Francisco abandonou a aventura no segundo dia de actividade por lesão num joelho.
Demos uma volta pela Guarda e jantámos num restaurante local. O dia esteve frio e a ameaçar chuva.
Deitámo-nos cedo.
(26/Abr)
Saímos com frio e chuva. Sabíamos que o dia ia ser chuvoso, mas tínhamos a esperança que para o final as condições atmosféricas melhorassem.
Saímos da Guarda por uma antiga via romana e em breve chegámos ao percurso denominado por T1, onde algumas marcas vermelhas, já bastante "comidas" pelo tempo, nos foram ajudando durante o percurso.
As alterações que entretanto ocorreram, com a construção de uma estrada, modificaram substancialmente o caminho e as marcas desapareceram. A chegada a Chãos e depois a Pêro Soares foi feita sem grande certeza sobre o caminho que percorríamos. Por intuição em alguns pontos e depois perguntando a locais, lá chegámos ao ponto que pretendíamos que era a descida pela antiga via romana, para Vila Soeiro.
Descida a via romana, com uma queda aparatosa do Pina Jorge, que escorregou numa laje molhada, felizmente sem consequências, lá chegámos ao Rio Mondego. Atravessado o rio, descansámos e comemos alguma coisa ao abrigo de uma paragem de autocarro.
Seguimos depois para Vila Soeiro onde o percurso inicia a subida pelas encostas escarpadas. Esta parte do percurso não foi percorrida há dez anos atrás por indicação de um local (o compadre Abade). Na altura o conselho que nos deu custou-nos umas horas a mais de marcha para contornar a serra até chegar ao seu planalto. Desta vez e para evitar essas horas, decidimos seguir pelo caminho indicado.
Percebemos, 10 anos depois, o porquê do conselho do velho compadre. E desta vez pagámos um preço caro por o não termos voltado a seguir.
Passámos então a povoação entrando pela serra. A princípio o caminho era bastante largo e fácil de caminhar. As marcas também foram desaparecendo, obrigando-nos a sair do trilho algumas vezes. Fomos sempre retornando ao trilho, que se tornou de pé posto, com pedra solta, água e cada vez mais estreito e junto a uma pendente, com alguma inclinação e profundidade.
Pelo caminho a chuva foi quase sempre uma constante e o vento, por vezes forte, também não nos ajudou muito durante o percurso. Quer pela água da chuva, quer pelo suor, já íamos todos molhados, mas nesta altura sem qualquer problema de maior.
Parámos para comer qualquer coisa e logo continuámos a caminhada. Pouco depois o mato tomou conta do caminho, o que começou a ser complicado, ainda mais porque íamos bastante carregados e manobrar com as mochilas grandes e pesadas não estava a ser fácil.
Eu e o Pina Jorge tirámos as mochilas e fizemos mais umas dezenas de metros pelo caminho mas percebemos que continuar por ali estava fora de questão.
No regresso as coisas correram mal mas, apesar de tudo, temos a considerar que a coisa até acabou por não ser assim tão grave.
Regressávamos ainda pelo trilho de pé posto quando eu (Calé), ao pousar o pé, a pedra cedeu, provocando uma entorse no pé direito e, ao desequilibrar-me, o peso da mochila atirou-me para a vertente mais exposta.
Ainda escorreguei alguns metros pela pendente até me conseguir agarrar a umas rochas. Percebi logo que o meu pé direito não estaria nas melhores condições, tendo-me valido as botas. Provavelmente teria partido o pé e a situação seria muito mais complicada.
Subi novamente até ao trilho e lá fui descendo até Vila Soeiro. O pé não estava bom mas não me causava grande problema a caminhar. Talvez porque ainda estivesse quente.
Decidimos continuar em busca de uma solução para chegarmos a Videmonte. Em conversa com alguns locais decidimos ir na direcção de Trinta, uma aldeia antes de Videmonte.
Seguimos então por um trilho junto ao Rio Mondego que nos levou até a uma pequena central eléctrica. Pensámos pernoitar por lá, mas a mesma encontrava-se encerrada e o único barracão aberto era um curral para gado, cheio de dejectos animais. Descansámos ao seu abrigo enquanto decidíamos o que fazer.
Decidimos seguir a caminho da povoação dos Trinta procurando um caminho para o fazer. Depois de uma tentativa que abortámos quando verificámos que a direcção do caminho não era a que nos interessava, seguimos as marcas de um percurso pedestre.
Este levou-nos por uma levada, primeiro em equilíbrio por um estreito muro, com apoio de uns arames, facto que não me agradou em especial, mas depois seguiu por um caminho de pé posto junto à levada.
A meio da levada o percurso obrigou-nos a subir toda a encosta, com forte declive, seguindo algumas mariolas por entre o mato. Foi uma subida árdua, longa e bastante desgastante devido à carga que lavávamos às costas. Aí o meu pé teve que suportar mais esforço do que o que devia, mas portou-se bem.
No final da subida a aldeia de Trinta apareceu-nos ao fundo, mas o caminho para lá chegar não foi fácil. Era um caminho de pé posto, entre mato molhado e escorregadio a obrigar-nos a andar meio inclinados. As ervas travavam o andamento, fazendo-nos tropeçar nelas.
Depois, já em estradão, lá chegámos à povoação e ao seu café.
Molhados, cansados, doridos, aleijados mas contentes de chegar à civilização, depois de quase 9 horas de marcha por caminhos duros e nada fáceis, ainda para mais bastante carregados.
Devido às condições atmosféricas que se mantinham, com frio, vento forte e chuva, e ao estado em que estávamos, decidimos arranjar um lugar para dormir.
Assim o fizemos ficando num alojamento local.
O banho quente e depois uma boa refeição ajudaram a recuperar o ânimo. O mesmo não aconteceu comigo quando vi o meu tornozelo. Percebi que a aventura teria terminado para mim.
(27/Abr)
Depois de uma boa noite de descanso, os meus três companheiros de aventura continuaram a Travessia e eu regressei à Guarda de táxi e depois a Aveiro de autocarro.
Sei que eles tiveram um dia bem melhor, com Sol, e chegaram à Portela, na base da subida ao São Tiago, onde acamparam.
1 comentários:
Desta vez o azar bateu na minha porta.
Agora sei o que o Francisco sentiu quando à 10 anos teve que abandonar a actividade.
Paciência, penso ter tomado a decisão mais inteligente e estar pronto em breve para outras aventuras.
Espero que os meus companheiros de aventura estejam bem e que a Travessia lhes corra pelo melhor.
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