Terminámos hoje a Travessia da antiga Linha do Corgo, perfazendo os 96,167 metros de via férrea que a compunham.
A etapa de hoje iniciou-se em Vidago tendo terminado em Chaves.
Apesar de ser a etapa mais curta, com 20Km de extensão, foi a mais complicada de realizar. A construção da A24 causou "danos" no antigo leito, tendo em algumas partes seccionado alguns troços. Daí a termos a primeira sensação de que o trilho desaparecera pouco antes da passagem em Vilarinho das Paranheiras e, de forma bem mais grave, após a passagem neste mesmo apeadeiro.
Nesta parte do percurso fomos acompanhando a auto-estrada até que o trilho desapareceu, obrigando-nos a subir a encosta e depois a descê-la para um outro trilho que apareceu. Andámos perto de duas horas por trilhos intermináveis sem um único vestígio que nos garantisse que estávamos no antigo leito da via.
Pela carta militar e com o auxílio de um GPS de automóvel, onde ainda aparecia o traçado da via, calculávamos que não estaríamos longe. Pelo menos sabíamos que à nossa esquerda estava a A24 e algures à direita a estrada nacional. Também sabíamos que íamos na direcção de Chaves. Nem tudo estava mal.
O aparecimento do Rio Tâmega também nos trouxe mais certezas de que estaríamos no lugar certo, mas...
Ao fim de quase 7km, sem povoações, nem vivalma, encontrámos finalmente um marco da CP e pouco depois chegávamos à estação de Vilela do Tâmega.
Após um descanso merecido partimos em direcção à estação do Tâmega. Pelo caminho atravessámos o rio pela Ponte Ferroviária do Tâmega para darmos entrada na antiga estação local, ou melhor, para vermos que a estação está recuperada, tem uma locomotiva a vapor e uma carruagem junto dela, mas encontra-se vedada porque é propriedade privada. Parece que é uma Pousada ou qualquer coisa do género.
Por esta altura as bolhas, esfoladelas, feridas, assaduras e outras maleitas começavam a minar o ânimo, mas convencidos que os 6km em falta seriam também eles ultrapassados facilmente. Afinal começou foi o tormento do dia. A linha praticamente desapareceu, apenas pontualmente conseguimos percorrer o leito, cheio de mato, lama, lixo mas quase sempre interrompido por Etar's, Pedreiras, fabriquetas, particulares e toda a gente que, à boa maneira portuguesa, acha que "é tudo nosso".
Onde pensávamos que o leito da via estaria mais preservado e até aproveitado foi, em quase toda a antiga linha, o pedaço mais abandonado, degradado e impraticável. Fez-nos ir para a estrada até que concluímos a travessia completamente fora da via. Esta marcha final de quase 6 km por alcatrão foi o "canto dos cisnes" para os nossos já traumatizados pés.
Terminámos junto à antiga estação de Chaves e eu ainda me consegui arrastar até ao pequeno núcleo museológico que por lá existe. Pequeno, com poucos exemplares mas sempre interessante de visitar.
2 comentários:
Já não me lembrava do que era sofrer a sério.
Foi preciso ranger os dentes e tentar ignorar a dor, ao longo de horas e muitos km's em cada etapa.
O certo é que chegámos sempre ao final e no dia a seguir lá estávamos novamente a caminhar.
Para esta linha fica mesmo a força de vontade, que quer eu, quer o Francisco, precisámos de ter para conseguir percorrer os 96 km's da via.
Apesar de tudo, na minha opinião, valeu a pena o esforço para conhecer mais um património que desaparece dia para dia.
Venha a próxima (mas só depois de curar as maleitas).
Até que enfim vejo o Calé a por alguma emoção no seus relatos; normalmente são apenas descrições técnicas, mas desta vez deixou transparecer algumas das coisas que nos passaram pela cabeça e pelos pés, se é que se pode chamar pé aquilo que vi quando tirei as meias
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